O eu-lírico é um romântico
desvairado e sem cura. Aqui, ele destila um descontentamento que, por causa da
rapidez em que as palavras surgem na mente, se torna um conformismo.
Acontece que ele é um
espectador dos dias e das reações. Sendo assim, enche a massa cinzenta de
conceitos próprios que futuramente se mostrarão já decretados por mentes muito
mais famosas e pioneiras. Sem problema. Nada se cria, tudo se transforma, disse
um pensador famoso. Dito isto, o eu-lírico sonha ser original, já sabendo que
não é, e pede perdão se não falar de novidades. Porém, fala o que quer.
Como já foi dito, o eu-lírico
assiste a vida, tanto a dele como a dos outros. O tanto assistir, o que também
inclui viver, fê-lo entender que o amor é quantitativo, mas, principalmente,
qualitativo. O recheio (amor) do doce chamado coração é feito dos melhores
ingredientes, que conferem um desfrute mais virtuoso do amor e satisfação
garantida. Contudo, existem diversos tipos de doces – bolos, pudins,
rocamboles, bavaroises - assim como existem diversos tipos de corações. É
preciso saber qual é o doce e qual é o recheio certo.
Refletir sobre tal assunto e
assistir filmes fez o eu-lírico desejar a maior perfeição possível para o seu
coração. Quis certos ingredientes que ele mesmo tem e outros que ele não tem, a
fim de sobrepujar as expectativas do sabor real do recheio. Almejou um doce tão
belo e saboroso que daria pena de provar. E foi neste ponto que ele cometeu seu
grande equívoco. Para que algo tão perfeito se ele admiraria muito mais do que
usufruiria?
Então concluiu que o amor
existe para ser usado, consumido até a última grama, e não para ser formalizado
na mente sob conceitos errôneos de excelência. Isto não ignora a qualidade do
amor – reafirma tal reflexão. A qualidade é de acordo com a necessidade do
coração. O eu-lírico aceitou a realidade de que não amará uma Anne Hathaway,
mas sim alguém que reformule seu pensamento de que Anne Hathaway seria
perfeita. Alguém que tenha sono junto com ele e durma durante os filmes dela.
Ah, sono conjunto! Quanto amor!
*As reflexões aqui escritas são
oriundas de uma conversa informal tida com o eu-lírico, que se pôs a falar, sem
pronunciar uma palavra sequer ao escritor. Segundo ele, os raciocínios são
baseados no texto do livro de Provérbios, capítulo 31, versículos 10 ao 31.