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terça-feira, 22 de agosto de 2017

Sobre trabalho



"Se pelo menos ele tivesse procurado um emprego melhor, poderia me ajudar"

Essa não é uma frase que faz bem ler quando é voltada para você e quando você está
iniciando o seu dia de trabalho. Mas, não controlamos o que outros vão dizer - na verdade, eu sei o quanto é difícil controlar o que você mesmo vai dizer.

Continua sendo difícil de ler. Por isso, resolvi documentar em forma de texto algumas
informações que auxiliam a esperança para o futuro.

Tenho aprendido o valor da luta, da insistência, do esforço. Respirar fumaça, levar sol 
no corpo todo, tomar chuva também e chegar sujo de lama, ganhar do vento uns grãos de
areia nos olhos: tudo isso faz parte do meu dia, nas quatro viagens de bicicleta.

No malfadado trabalho acima mencionado, convém que eu conte dinheiro rapidamente, que eu lide com o dinheiro dos outros, que eu use um software que nem sabia por onde andar, que eu venda produtos que sequer conheço sua utilidade. 

Eu não me preparei para nada disso em toda a minha vida. E, claro, como em muitas outras situações, eu já quis desistir. 

Chegando no trabalho hoje, esta terça-feira, depois de ter dormido poucas horas, li uma
mensagem que poderia facilmente me fazer pensar em desistir. Desta vez, não. 

Pois hoje, após isso, eu vendi seis brocas: três para concreto, de 6, 8 e 10 milímetros, 
e três para aço e madeira, de 5/32, 3/16 e 1/4 de polegada. Vendi uma furadeira de impacto. Vendi parafusos de 5,5x55 milímetros e de 1/4 de polegada por 50 milímetros. E vendi ainda outras coisas.

A questão é que não apenas eu me lembro disso em detalhes: eu fiz tudo isso conscientemente. Há alguns meses atrás, eu não imaginava que estaria fazendo isso. Pouco depois, eu não fazia ideia de como essas coisas seriam utilizadas. 

Agora estou dando dicas de como usar. Por causa disso, ouvi um clichê hoje: "tudo na vida se aprende". Sempre fiz piada dos clichês, pois, pela razão clichê de ser um pecador, eu me achava muito especial e diferente. Estou sendo moído para abraçar os clichês, sejam qual for a natureza deles.

Por causa desse trabalho, preciso aprender a usar meu tempo, coisa que antes eu nem precisava aprender. Cada vez menos tenho descumprido obrigações ou atrasado-as. 

Dizer tudo isso pode me levar às lágrimas por algumas razões: me acostumei a estar inerte e improdutivo. Aproximei-me da melancolia. Da depressão, não, mas da autocomiseração e da tristeza sem razão, sim, constantemente.

Preciso trabalhar. Não posso faltar por falta de vontade, sono ou preguiça. Estando como estiver, preciso fazer meu trabalho, e preciso conseguir fazê-lo. E acabo conseguindo, no fim do dia.

Parece-me que ainda aprenderei outras coisas, inclusive moderar minhas expressões e ser menos intolerante, até comigo mesmo, caminho tão difícil que, a priori, não consigo encontrar. Mas eu consegui vender brocas 5/32, então é provável que eu consiga. 

Infelizmente, preciso celebrar sozinho, neste momento, a conquista de um aprendizado; até porque isso só faz diferença para mim, eu acho; contudo, gostaria de compartilhar essa alegria misturada com decepção pelo que li, pelo que fiz. Esses são os motivos deste documento: admitir a própria fraqueza; celebrar as pequenas conquistas; fornecer esperança para o futuro.

Não aconselho que disso surja amor próprio, pois nada pode ser mais diabólico. Apenas siga em frente. Aprenda sobre as brocas ou qualquer outra coisa que te tire da cama e cresça.