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terça-feira, 12 de agosto de 2014

Canto e posteridade

É uma voz sorridente, a de meu pai. Num lapso de tempo entre o sono e a ação, uma voz que me faz muito feliz é a dele, porque me sorri. Ainda que eu esteja no limbo de mim, ou na raiva do dia, eu faço trégua com o mundo ao ouvir a voz de meu pai. Alegria sem tamanho me toma, desde que eu era muito pequeno.

Olhe, o meu pai é engraçado. E ele não é bonzinho, não. Mas o meu pai sorri com a voz e ri com as orelhas.

Ele é também é forte, mas tem medo. É tão fraco, meu pai. Às vezes, nem sabe para onde vai, de tanto canto que já foi. Mas há um lugar que meu pai sempre vai e que eu aprendi também com ele.

Meu pai usou sua voz para me levar à Voz. Se ele tivesse feito apenas isso por mim, e errado em tudo, estava bom.

(Já está muito bom, pai. Toda aquela trilha que ficou para trás foi você quem começou a abrir. Eu ando arrancando a grama pela raiz e isso machuca meus dedos, que não são tão fortes como os seus. Sou grato pela parte que você já fez, e preciso que você continue a fazer por trás de onde estou.)

Com meu pai aprendi a dormir tarde. Não aprendi a levantar cedo. Aprendi a cantar e a falar e a ler e a escutar sua voz. Eita, que voz danada de boa! É a voz de meu pai quando fala sobre a Voz.


Todo mundo diz que eu pareço com meu pai. Ah, se for verdade! Já é o bastante ter uma voz quase como a de meu pai e defeitos quase idênticos. E só porque eu sempre quis ser igual a ele.


Para Onde Vão as Aves by Sérgio Lopes on Grooveshark