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domingo, 23 de outubro de 2011

Peço mais pacotes de ternura

Eu gosto de gente que deixa pistas. Que, com sutileza, pensa que fica no “quase”. Contudo, consegue aquilo que deseja. Sem evidenciar tudo, sem deixar na cara o que quer alcançar e onde quer chegar. Deixando o suficiente - suas pistas - e a boa sorte para aqueles que conseguirem interpretá-las. Eu não gosto de gente muito óbvia.

Eu gosto de gente sincera e decidida. Gente que, mesmo com medo, sabe e demonstra o que quer. Mesmo sem saber porque quer, sem saber ao certo o motivo daquele desejo ter surgido, tenta explicar, tenta expor. De quem se esforça pra esclarecer algo aparentemente impossível. Eu não gosto de gente que deixa os outros pensarem sozinhos, que não dá nenhuma luz.

Eu gosto de gente que tem coragem. Que arrisca, mesmo em meio às dúvidas. Gente que sabe que elas só serão respondidas através da insistência e da teimosia. Gente que é teimosa e insiste em ser feliz. Gente que é movida por amor, que tem força acumulada de tanta fraqueza vivida tempos atrás. Eu não gosto de gente assustada com o que existe no depois. O que nos pertence é o antes e o agora. O depois não é nosso, é d’Ele.

Eu gosto de gente altruísta. Gente que pensa no outro, que sabe o que é melhor pra si, mas adapta o seu querer para o bem estar de alguém querido. Altruísmo é fundamento do amor, e eu gosto de quem vive de amar. De amar o nascer e o pôr do sol, de amar receber um sorriso de uma criança, de amar pôr a mão embaixo do travesseiro por ser geladinho. E dividir os melhores prazeres com outro é o que, senão amor?

Eu amo quem sabe amar.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Conselho de um velho apaixonado

Sim, o texto não é meu. Mas, como admirador convicto de Carlos Drummond de Andrade, precisei postá-lo, pois o achei de uma beleza verdadeiramente clara e simples. É que talvez se encaixe no gosto de alguns por estarem vivendo isto que será lido. Ou não, talvez a sinceridade e simplicidade do texto o atraia. De uma forma ou de outra, ele não pode deixar de ser lido.

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Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o 1º e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Algo do céu te mandou um presente divino: o amor.

Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e, em troca, receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.

Se você conseguir, em pensamento, sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado...

Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados...

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...

Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...

Se você tiver a certeza que vai ver a outra envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela...

Se você preferir fechar os olhos, antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida poucas amam ou encontram um amor verdadeiro. Às vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente. É o livre-arbítrio. Por isso, preste atenção nos sinais. Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o amor.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Falho cuidado

Na minha infância em que eu tive tudo o que precisei, mas longe de ter riquezas, meu passatempo favorito era o futebol. Não importa quando, onde, com quem, jogar futebol era uma paixão fundamentada em uma razão de estar em boas condições físicas: a bola.

Ela era minha companheira inseparável, sempre presente nas horas certas (e incertas). Porém, era de praxe que uma bola não tivesse mais do que uma semana de vida ao meu lado. Até então só me era permitido possuir bolas de péssima qualidade, leves e fracas, daquelas que o vento controla, e não você. Contudo, elas eram baratas, e minhas pechinchas semanais moeda por moeda de vinte e cinco centavos faziam com que elas fossem compradas aos montes nas mercearias. E assim eu perdia facilmente minhas paixões (as bolas) e as retomava com um pouco de dinheiro.

Num belo dia, cheguei da escola e quis jogar bola, mas minha vontade não foi saciada pelo fato de ter perdido três bolas nos últimos cinco dias. O dinheiro havia acabado, e eu estava impossibilitado de reaver a minha grande paixão, de repossuir a companhia mais prazerosa que existia: a bola de futebol. Em meio a esta grande agonia, catei alguma grana no meu roupeiro, e tive uma surpresa inacreditável: dentro dele estava guardada uma nova bola! E não era uma bola qualquer, não. Era uma réplica da bola da copa! Uma bola maravilhosamente bem acabada com um couro emborrachado e tão macio a ponto de tornar um chute um exercício ainda mais delicioso. Tinha mais precisão e mais força, além de não doer se batesse em alguém. A bola permitia um controle ainda mais tranqüilo dela mesma enquanto eu jogava. Foi um dos melhores presentes que o meu pai poderia ter me dado, pois unia desejo e necessidade. Ela era uma nova paixão perfeita em um momento perfeito.

Eu sabia que a bola havia sido cara, e seu valor para mim era enorme financeiramente e sentimentalmente. Ela era diferente e melhor que todas as outras paixões, quero dizer, bolas que eu já tive. Precisava de um cuidado extremo, e eu o tive durante uma semana. Jogava sozinho, não deixava ninguém tocar na bola a não ser com as mãos para admirar o que era somente meu. Eu não a dividia com ninguém, tinha medo que alguém não tivesse o mesmo zelo que eu tinha, e não queria que desfrutassem da minha paixão absoluta.

No entanto, cansado de tanto jogar futebol sozinho, decidi convidar uns meninos da vizinhança, a fim de compartilhar momentos perfeitos com aquela bola fenomenal. Além do mais, era uma oportunidade minha de demonstrar todo o futebol que eu tinha guardado por uma semana. Minha errônea generosidade, aliada à prepotência, ensinaram-me uma lição inesquecível.

Ao jogar com minha bola no meio da rua, corria o risco de perdê-la com um chute sem direção de algum tolo, ou de algum carro que a atropelasse. No fatídico momento em que a bola estava nos pés de um pé-torto, um ônibus vinha no caminho, já bem perto. Gritei: - segura a bola! Não a deixe escapar! - para o bobão que possuía o controle dela. E o retardado garoto parece não ter me ouvido. Quando o ônibus se aproximou, ouvi o som mais aterrorizante de toda a minha vida: “BUM!”

O próprio assassino imbecil trouxe para as minhas mãos aquilo que eu poderia chamar de um cadáver. A minha bola estava com um buraco enorme. Tanto faz como foi que ela explodiu, e que a culpa foi do moleque. Ele não poderia redimir-se com uma bola igual. Afinal, ela era inigualável, era a maior paixão que eu, um garoto de 10 anos, tive em toda a minha vida. E estava em minhas mãos totalmente inutilizável. Eu não tinha palavras, apenas lágrimas incessantes desciam pelo meu rosto naquele instante. Nada a fazer nem a falar, apenas chorar. Perdi meu grande amor. Porque dividi. Porque deixei sob o controle de outro alguém uma única vez, quando deveria estar sempre somente sob o meu controle. Estava apenas à minha vista, quando deveria estar nos meus braços. Sempre em meu braços.