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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Dia dois

O dia dois é de nós dois. Em par, sorrindo numa estrada de incertezas, a certeza é de que todo dia dois é um mês a mais.

Um mês a mais de sonhar.

Um mês a mais de olhar.

Um mês a mais de amar.

No dia dois, um mês a menos para os próximos meses. Reforça-se a confiança no amanhã que não vemos, mas sabemos: é nosso.

O amanhã é de nós dois, assim como o dia dois.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Canto e posteridade

É uma voz sorridente, a de meu pai. Num lapso de tempo entre o sono e a ação, uma voz que me faz muito feliz é a dele, porque me sorri. Ainda que eu esteja no limbo de mim, ou na raiva do dia, eu faço trégua com o mundo ao ouvir a voz de meu pai. Alegria sem tamanho me toma, desde que eu era muito pequeno.

Olhe, o meu pai é engraçado. E ele não é bonzinho, não. Mas o meu pai sorri com a voz e ri com as orelhas.

Ele é também é forte, mas tem medo. É tão fraco, meu pai. Às vezes, nem sabe para onde vai, de tanto canto que já foi. Mas há um lugar que meu pai sempre vai e que eu aprendi também com ele.

Meu pai usou sua voz para me levar à Voz. Se ele tivesse feito apenas isso por mim, e errado em tudo, estava bom.

(Já está muito bom, pai. Toda aquela trilha que ficou para trás foi você quem começou a abrir. Eu ando arrancando a grama pela raiz e isso machuca meus dedos, que não são tão fortes como os seus. Sou grato pela parte que você já fez, e preciso que você continue a fazer por trás de onde estou.)

Com meu pai aprendi a dormir tarde. Não aprendi a levantar cedo. Aprendi a cantar e a falar e a ler e a escutar sua voz. Eita, que voz danada de boa! É a voz de meu pai quando fala sobre a Voz.


Todo mundo diz que eu pareço com meu pai. Ah, se for verdade! Já é o bastante ter uma voz quase como a de meu pai e defeitos quase idênticos. E só porque eu sempre quis ser igual a ele.


Para Onde Vão as Aves by Sérgio Lopes on Grooveshark

quinta-feira, 20 de março de 2014

Escrito de quinta à noite aos vinte anos

        Estou constatando algo que não é novidade: os homens, em matéria de expressar angústia, são muito estúpidos.

       Há dois dias que eu quero chorar e não consigo. O impulso emocional que traspassa o tronco e o pescoço esbarra bem na garganta e volta, seco. Aquele empurrão que as glândulas lacrimais dão nos olhos são frustrados - e tudo isso pela infinidade de preocupações.


       Nem sei a quanto tempo durmo mal, saturado de atividades. Esse ativismo engole as reflexões, tão importantes para mim no decorrer do dia. Coisas como este texto surgem na mente feito comida enlata na indústria, uma sequência constante. Contudo, elas são esmagadas pelas obrigações. Não posso perder tempo pensando, tenho que trabalhar, tenho que estudar, tenho que ensaiar, tenho que isso, tenho que aquilo...

  
      O bom humor, o carisma e a expectativa, antes integrantes de um dia bem vivido, tornam-se cinzas, resultados do fogo de uma caldeira obrigada a expor resultados.

       A angústia na mulher é barulhenta, exposta; no homem, é covarde, cheia de frescura.


       Queria chorar de cansaço, estresse e planos malfeitos, mas não há disposição. Meu corpo não responde. Meu intelecto não aceita perder tempo lamentando - exceto agora. E já perdeu tempo demais...

I'm So Tired by lobitle on Grooveshark