Cometo o triste pecado de ser
negligente em minhas amizades. Falho em grande escala com absolutamente todos
os amigos que construo, por um motivo que é simples, mas não justifica: a
demanda é enorme.
O amor é um sentimento
dificílimo de administrar – isto é uma verdade indiscutível. E tudo piora
quando se o tem em grande quantidade, que é o meu caso exato. Pois meu conceito
de amigo é abrangente, esperançoso, talvez ilusório e, digamos, inocente. Faço
uma “seleção” de pessoas apenas quando forçado a tal coisa, em situações
ligeiras e sérias, já que sequer falo com quem não me apraz e o ser humano tem a
tendência de ser desleal. Nesse caso, faz-se necessária uma otimização das
relações interpessoais vigentes (o linguajar casa com o quanto a situação é insuportável).
No entanto, quando alguém me
apraz, entendo que devo retribuir com ternura redobrada. Partindo da
reciprocidade, então, surge o que eu compreendo como amizade. Por motivos
vários, nutro admiração e afeição em níveis altíssimos por gente que não sabe disso,
e nem saberá, porquanto, costumeiramente, meu amor aos amigos é tácito, embora
muitos digam que tenho uns “de repente”. Isto é, do nada o declaro. É assim
porque eu realmente creio no sentimento mútuo, muito embora eu me surpreenda
sabendo que ela não existe. Entendo que todos falharão comigo, mais cedo ou
mais tarde, então já ando com o perdão na mão pra presentear. Não só porque eu
também preciso ser perdoado, como também porque praticar o perdão é estar em
completa paz consigo mesmo e em harmonia com o que é real e imutável.
Cada um tem sua própria maneira
de amar, o que cria inúmeras formas de amizade. Há os que vejo diariamente; os
que vejo semanalmente; os que vejo mensalmente; os que vejo anualmente; os que
nem vejo, senão em fotos; os que desafogo minha amargura que se renova a cada
dia; os que faço rir com meu bom ou mau humor; os que faço sorrir com
gentilezas e garantias de eterna dedicação ou somente com o ombro companheiro
daqueles minutos; os que estão comigo desde os primeiros anos de vida; os que
estão longe; os que estão medianamente longe; os que estão um pouco longe; os
que estão perto; os que são constantes; os que surgiram de situações adversas (as
que já me apaixonei, mas nem foram tantas); os que prometo visitar e não
cumpro; os que não devolvem meus objetos; os que suportam três horas de
semiótica firmes ao meu lado; os que demonstram amor me agredindo; os que eu,
em espanhol, fiz juras de eternidade e consegui descumprir; os que me dão
carona e me emprestam dinheiro.
Este humilde discurso jamais
será suficiente para agradecer ou homenagear os dignos e queridos amigos. Todos
contribuíram de sua maneira única e pessoal para a minha felicidade, e são
obrigados a continuar contribuindo, sendo que cumprirão a obrigação por puro
prazer, que eu, em todo tempo, farei o possível para proporcionar. Deus os
abençoe – ele me abençoou com a existência de vocês.