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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Novo ano empacotado


Planejei muito e não pus em prática. E, ainda assim, vejo o ano fechar mais lindo do que quando abriu. Tão mais belo, trazendo ideias ainda mais esclarecidas, trazendo novos planos que corrigirão os mal elaborados projetos.

Vale a pena sim se arrepender dos erros, afinal, de que forma virão os acertos? Não é trabalho do tempo e nem do destino, que sequer se importa em opinar. A função não é de janeiro, nem de abril, nem de novembro, mas nossa. “Que seja doce”, mas que as nossas mãos mexam a colher pro açúcar virar caramelo. Duas mãos unidas, que tal? Vai depender da quantidade de açúcar. Se for pouco, uma mão já basta. Se for mais do que precisa, as duas mãos se desentendem e uma delas solta a colher. Mas, se a medida de doçura for certa, muito mais doces serão feitos nos doces anos que ainda virão.

O que não vale a pena é resmungar do 2012 que termina agora. O pobre ano não tem mais tempo para se justificar. Se não foi tão bom como poderia, a culpa não é dele, e sim de quem desconsiderou a bonança que ele insistiu em deixar na caixinha do correio; a culpa é de quem esqueceu lá como se fosse folheto das forças armadas. “Não jogar em via pública”, diz no verso, e o mesmo se pode dizer sobre o ano que virá, já que deste, se encerrando, só restaram palavras; e que, ao contrário do papel, não é reciclável. No entanto, o novo ano vem com ainda mais bonança, que assume várias formas, seja de gente, seja de brigadeiro, seja de abraço.

Tem coisa linda vindo - e vindo ao encontro, não é parada, esperando. Porém, só vai ao encontro de quem acredita. Ah, as coisas lindas perseguem quem acredita, quem vai atrás pra segurar. Porque, se não for ao encontro das coisas lindas que vêm de frente, elas podem cair num buraco e demorar um ano pra sair. E a gente chora arrependido de não pegar as coisas lindas e pôr na sacola antes que ficassem inalcançáveis. Se a gente viu que é coisa linda, guarda logo!

Portanto, este humilde desejador de boas coisas deseja boas coisas a todos que lerem estes votos, e deseja também que hajam sacolas suficientes pra guardar o que há de vir. Peço também que desejem que os próximos escritos sejam tão lindos quanto o que estiver nas vossas sacolas. Até!


*Os que não leram os votos também terão um agradável 2013, embora possam não saber disso.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Encanto de traços firmes


Não aceito sentimentalismo barato nem chororô desmedido. Tem que torcer a toalha encharcada de lágrimas e só me entregar quando estiver enxuta. Rejeito se me aparecer com murmúrios daquilo que passou, porque eu sei que tu és bem melhor do que isso. Vire o coração ao avesso.

Acontece que as gentes adoram viver de aparência, incluindo a da insatisfação com tudo; resultado do imediatismo e comodismo que somos obrigados a aceitar (mas não a viver completamente). O desejo é de ter suas tristezas resolvidas por outro – o próximo “amor”. Esperam alguém que resolva os problemas, que enxugue as tais lágrimas, que resolva as angústias, que apague as tristezas. Fecha tuas maquiadas pálpebras pra isso! Das duas, uma: ou tu engoles tudo o que tem de lembrança ruim aí, ou põe pra fora de uma vez. E eu não apareci pra limpar a sujeira. É uma faxina que não me cabe fazer, mas a ti, todos os dias.

Só falo isso pra te alertar, porque não é difícil ver tua lucidez. Eu quero te ajudar a reescrever, isso sim. Percebo em minutos te mirando: queres novidade de sorrisos. Vim pra colorir o preto-e-branco, criar na tua tela pálida uma obra de coisa aguda, mesmo. Coisa que perdure sem medo de findar. Meu bem, comigo você também vai chorar, por isso meu falar é tão momentaneamente denso. Não adianta me dar a responsabilidade de te reconstruir, eu não sou o teu sustento, não vim te levantar. Só vais conseguir absorver o que eu tenho por aqui se houver espaço por aí, e espaço limpo de pessimismo. Cheguei com uma coisa que é pra te completar, mas... como? Se você não tirou a neve do jardim?

Certo, de repente eu te ajudo. Entendo, passado tem fantasma e coração acusa. Levo uma pá, você, a vassoura, e a gente deixa tudo em ordem. No meu bolso levo semente! Semente do que você quiser: cravo, margarida, lírio, tulipa e cafuné com arrepio. Depois de limpar o jardim pode deixar que eu mesmo planto, rego e troco por terra nova, fértil. Teu jardim é lindo, moça, dos mais valiosos que já vi nas minhas andanças. Se bem cuidado, causa inveja no vizinho. Com teu pincel, penso em causar inveja é em Monet com o jardim pintado/plantado por nós dois.

A brisa sopra gentil e invade os portões.         
               
Além do que se vê by Los Hermanos on Grooveshark

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Doçura e corações


O eu-lírico é um romântico desvairado e sem cura. Aqui, ele destila um descontentamento que, por causa da rapidez em que as palavras surgem na mente, se torna um conformismo.

Acontece que ele é um espectador dos dias e das reações. Sendo assim, enche a massa cinzenta de conceitos próprios que futuramente se mostrarão já decretados por mentes muito mais famosas e pioneiras. Sem problema. Nada se cria, tudo se transforma, disse um pensador famoso. Dito isto, o eu-lírico sonha ser original, já sabendo que não é, e pede perdão se não falar de novidades. Porém, fala o que quer.

Como já foi dito, o eu-lírico assiste a vida, tanto a dele como a dos outros. O tanto assistir, o que também inclui viver, fê-lo entender que o amor é quantitativo, mas, principalmente, qualitativo. O recheio (amor) do doce chamado coração é feito dos melhores ingredientes, que conferem um desfrute mais virtuoso do amor e satisfação garantida. Contudo, existem diversos tipos de doces – bolos, pudins, rocamboles, bavaroises - assim como existem diversos tipos de corações. É preciso saber qual é o doce e qual é o recheio certo.

Refletir sobre tal assunto e assistir filmes fez o eu-lírico desejar a maior perfeição possível para o seu coração. Quis certos ingredientes que ele mesmo tem e outros que ele não tem, a fim de sobrepujar as expectativas do sabor real do recheio. Almejou um doce tão belo e saboroso que daria pena de provar. E foi neste ponto que ele cometeu seu grande equívoco. Para que algo tão perfeito se ele admiraria muito mais do que usufruiria?

Então concluiu que o amor existe para ser usado, consumido até a última grama, e não para ser formalizado na mente sob conceitos errôneos de excelência. Isto não ignora a qualidade do amor – reafirma tal reflexão. A qualidade é de acordo com a necessidade do coração. O eu-lírico aceitou a realidade de que não amará uma Anne Hathaway, mas sim alguém que reformule seu pensamento de que Anne Hathaway seria perfeita. Alguém que tenha sono junto com ele e durma durante os filmes dela. Ah, sono conjunto! Quanto amor!

*As reflexões aqui escritas são oriundas de uma conversa informal tida com o eu-lírico, que se pôs a falar, sem pronunciar uma palavra sequer ao escritor. Segundo ele, os raciocínios são baseados no texto do livro de Provérbios, capítulo 31, versículos 10 ao 31.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Fim de tarde


Almeida sentou no banco da praça com o pessoal, pegou o tamborim e batucou. No balanço, os amigos entraram na onda - um pegou o cavaco, outro o repique de mão, mais um chegou com o bandolim e o samba saiu. Numa harmonia que casou com o improviso, o grupo emendou canção atrás de canção e todo mundo parou pra olhar.

Depois de alguns sambas mais animados, bem clássicos das gafieiras, Almeida parou e refletiu. Pensou sobre o que estava sentindo e a verdade é que estava triste. Era um quarentão que não andava em sintonia com o mundo. Depois de alguns anos vividos com a mulher que casou por obrigação, mas amou por vontade própria, teve que aceitar a realidade que mudou sua vida desde então. Tomada por um câncer, ela partiu pra longe e Almeida ficou sozinho. Sete anos passaram-se, tentativas vãs de amar novamente também, e ele não conseguia mais sentar no banco da praça e tocar seu tamborim com os amigos. Sempre se lembrava de quando rodava na gafieira com a Lucinha Pé-de-valsa, ou melhor, Pé-de-samba. Era quando o povo admirava o amor expresso em movimentos rápidos e sorrisos largos, face frente à face.

Só que agora todo mundo se encantava com o toque alegre que Almeida fazia soar no bairro. Havia muito tempo que tanta gente se juntava para ver sua arte. O antes alegre Almeida, que dançava com os braços ao redor de seu bem, parou de tocar para ser sincero consigo mesmo e assumiu seu desconsolo. Então disse aos amigos: “quero Lamento”. O rapaz do banjo introduziu, e todos, como bons chorões, emendaram o velho chorinho de Pixinguinha, deixando Almeida à vontade ao relembrar de dias mais felizes.

Uma moça saiu de casa quando ouviu as notas tão conhecidas de outros tempos. Laura viu o pai fazendo algo que desde pequena não via e o choro tomou conta não apenas de seus ouvidos, mas também de seu rosto. As lágrimas rolavam de alegria, e nesse momento ela chegou junto a cantar: “morena, tem pena, mas ouve o meu lamento...”, e o pai sorriu. Quantas lágrimas Almeida já tinha derramado! Dessa vez chorou a partir das mãos e da emoção das lembranças.

Quando tudo acabou, as cerca de vinte pessoas que estavam vendo soltaram um vigoroso aplauso. Almeida abraçou os amigos, beijou a testa da filha e, juntos, foram para casa. Ele estava feliz. Almeida amava um amor que não se apagou com as tragédias, amor que o fez amar Lucinha.  E por amar, estava realizado. Ao compreender isso, percebeu que poderia seguir sua vida na certeza de que fez alguém feliz, não por esforço, mas porque amou e se deixou ser amado pela melhor dançarina de samba da cidade.

As pesadas lágrimas findaram e deram lugar à paz.

domingo, 11 de novembro de 2012

Irresoluto


É risível quando me dizem: “você é tão bem resolvido”. É claro que não sou bem resolvido! Afirmar isso é tão inverdade quanto a própria mentira é verdade. E digo mais: ninguém é bem resolvido. Esta ideia é apenas uma jogada de marketing para aumentar o ego das pessoas que estão, em certa medida, deprimidas. Só é bem resolvido quem já morreu.

Eles, sim, estão completamente resolvidos, pelo menos com esta vida. Na qual preciso estudar para garantir o futuro, perdendo madrugadas de sono. Na qual preciso trabalhar para conseguir sustento à minha vida e à vida dos que dependem de mim. Em que preciso encontrar alguém que queira depender de mim. Definitivamente, não sou/estou bem resolvido.

“Depender? Quem vai querer depender de outro? Todos são individualistas e autosuficientes!”. Ah, triste verdade! Porém, ironicamente, em todos os momentos da vida dependemos de alguém. Na infância, mãe e pai são os provedores de tudo. Na adolescência, transpira-se o sentimento de independência, mesmo ainda dependendo dos pais, e começa-se a viver a falsa liberdade característica dos adultos. E, por fim, na velhice percebe-se a inutilidade de uma vida vivida sozinho.

“Liberdade é ter um amor para se prender”, escreveu Carpinejar. Olhando aqui e ali, vejo o quanto é ruim ser chamado de “bem resolvido”. Todo o cansaço dos afazeres diários pode ser derribado por um sorriso que faz uma possível lágrima subir o rosto e retornar para o seu lugar. Não é a hora de ela cair. É hora de amar o brilhante olhar que mira um ser totalmente confuso sobre o que fazer da vida, mas, que ao receber este olhar, entendeu o que é ser bem resolvido. Que o valor de todas estas estafantes tarefas para construir uma vida só pode ser compreendido quando serve para construir duas vidas como uma só. Duas vidas que cansam juntas, que correm juntas, que sorriem juntas... que se resolvem juntas.

Espero a resolução, pois em mim não está.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Estrela de todo dia


Queria eu saber pra que toda essa emperiquitação. Por que a maquiagem tanta? Eu vejo que você transpira feminilidade e possui uma luta diária de concorrência com as outras mulheres pelo posto de mais bela – possivelmente encontrando os defeitos nas outras. Essa disputa é um instinto natural e eu nada posso fazer, tampouco entendo sobre isso, afinal sou homem e cheio de sem-gracices.

Mas é que a vizinha nova te viu pela primeira vez dia desses, quando chegavas do trabalho, e perguntou depois pra Dona Augusta: “É esta a mulher do vizinho do lado?” Dona Augusta respondeu: “Sim, casaram-se há 1 ano e meio e me lembram de quando eu e meu marido Eustácio éramos felizes”. A vizinha, então, opinou: “Sei que, se este moço daqui do lado a ama, vai mantê-la feliz por muito tempo. Ele que a valorize, pois nunca vi uma mulher voltar de um dia de trabalho tão maravilhosamente linda.”

Meu bem, não sou quem diz. O povo todo vê minha sorte quando você sai de casa. Outro dia o Manoel da mercearia ficou te secando do momento em que fechaste o portão até virares a esquina. Ele te viu prender o cabelo antes de descer da calçada, fazendo aquele gesto de subir o queixo e depois levantar os braços com tanta altivez, e dar o nó nos fios sem usar objeto algum para sustentá-los. Ias naquele passo-rebolado bem marcado, em ritmo de partido-alto. A blusa amassada, porque você dormiu por cima dela sem querer, o rosto de quem se levantou 5 minutos antes de sair sem a menor noção do quanto estava deslumbrante. O Manoel não tirava os olhos e nem eu, que via toda a cena do ponto de ônibus. Ele babava por você e eu pouco me importava, pois ele aprovava teu desfile ritmado na nossa ruazinha, se mordendo de inveja de mim.

Por isso que hoje eu vim te buscar pra gente almoçar junto, na nossa casa. Eu preparei o frango, o feijão verde e os legumes todos, como você gosta. O arroz foi do risoto milanês de ontem, mas eu dei uma refogada. E nem se preocupa, tu vais voltar pro trabalho na hora certa, que eu peguei o carro do Vilela pra gente não perder tempo demais. Eu sei que teu dia é corrido, mas esquece tudo e olha só pra mim de 12h até 13h30. Depois você volta pro aperreio.

Ah, meu bem, você é tão injusta. Tanta gente se esforça apelando pra estética, tentando ficar apresentável e você, sem a menor cerimônia, acorda sem olheiras e o cabelo mais obediente do que recruta frente ao capitão – ele vai pra onde você manda. Me dá beijo quente de cama quente e faz meu café, enquanto eu apenas te assisto.  Ora, eu vivo de texto e música, a redação e o violão não me dão tempo pra tudo o que eu queria. Mas a visão de você prendendo as mechas negras, ou pondo açúcar no meu leite, ou soprando a poeira dos meus livros é que me impulsiona a escrever algo que me dê uma graninha pra pagar o cinema nosso do fim de semana. A tua confiança em mim cuidando de mim.

Perdoe o brilhantismo desnecessário. Mas não sou eu, o povo todo é que vê a minha sorte sempre que você pisa nossa calçada.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Queridos amigos


Cometo o triste pecado de ser negligente em minhas amizades. Falho em grande escala com absolutamente todos os amigos que construo, por um motivo que é simples, mas não justifica: a demanda é enorme.

O amor é um sentimento dificílimo de administrar – isto é uma verdade indiscutível. E tudo piora quando se o tem em grande quantidade, que é o meu caso exato. Pois meu conceito de amigo é abrangente, esperançoso, talvez ilusório e, digamos, inocente. Faço uma “seleção” de pessoas apenas quando forçado a tal coisa, em situações ligeiras e sérias, já que sequer falo com quem não me apraz e o ser humano tem a tendência de ser desleal. Nesse caso, faz-se necessária uma otimização das relações interpessoais vigentes (o linguajar casa com o quanto a situação é insuportável).

No entanto, quando alguém me apraz, entendo que devo retribuir com ternura redobrada. Partindo da reciprocidade, então, surge o que eu compreendo como amizade. Por motivos vários, nutro admiração e afeição em níveis altíssimos por gente que não sabe disso, e nem saberá, porquanto, costumeiramente, meu amor aos amigos é tácito, embora muitos digam que tenho uns “de repente”. Isto é, do nada o declaro. É assim porque eu realmente creio no sentimento mútuo, muito embora eu me surpreenda sabendo que ela não existe. Entendo que todos falharão comigo, mais cedo ou mais tarde, então já ando com o perdão na mão pra presentear. Não só porque eu também preciso ser perdoado, como também porque praticar o perdão é estar em completa paz consigo mesmo e em harmonia com o que é real e imutável.

Cada um tem sua própria maneira de amar, o que cria inúmeras formas de amizade. Há os que vejo diariamente; os que vejo semanalmente; os que vejo mensalmente; os que vejo anualmente; os que nem vejo, senão em fotos; os que desafogo minha amargura que se renova a cada dia; os que faço rir com meu bom ou mau humor; os que faço sorrir com gentilezas e garantias de eterna dedicação ou somente com o ombro companheiro daqueles minutos; os que estão comigo desde os primeiros anos de vida; os que estão longe; os que estão medianamente longe; os que estão um pouco longe; os que estão perto; os que são constantes; os que surgiram de situações adversas (as que já me apaixonei, mas nem foram tantas); os que prometo visitar e não cumpro; os que não devolvem meus objetos; os que suportam três horas de semiótica firmes ao meu lado; os que demonstram amor me agredindo; os que eu, em espanhol, fiz juras de eternidade e consegui descumprir; os que me dão carona e me emprestam dinheiro.

Este humilde discurso jamais será suficiente para agradecer ou homenagear os dignos e queridos amigos. Todos contribuíram de sua maneira única e pessoal para a minha felicidade, e são obrigados a continuar contribuindo, sendo que cumprirão a obrigação por puro prazer, que eu, em todo tempo, farei o possível para proporcionar. Deus os abençoe – ele me abençoou com a existência de vocês.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Ilustríssima (Paquetá)


Hoje é tempo de se decidir. Porque, depois de tudo o que se sucedeu em tempos esparsos, eu mereço um final decente, ora. Ficou cansativa essa história de tanta conversa sem futuro. Procuro fazer planos; que filme veremos hoje, que comida vou querer daquele restaurante que fomos da última vez, a que horas vamos nos encontrar. É o que eu quero planejar.

Eu cismei de pôr meu eu acima da razão que o momento me mostrava. Às vezes isso é bom, mas o problema é que o meu eu é muito impulsivo e teimoso. O querer do agora vence o “pensar duas vezes”, vence os conselhos de quem viveu aquilo de perto, vence a racionalidade. Tem que ser o que eu quero, porque eu acho que é o certo. PORÉM (sim, em caixa bem alta), como dizem por aí, danou-se. Escolhi a pior e mais cascuda decisão, que não dizia respeito apenas a mim. Fiz lágrimas escorrerem num rosto onde nunca deveriam ter escorrido. Tudo por uma zanga, insistência em um surreal desejo antigo. Ah, esses desejos antigos! Minha vontade é ilhar todos eles, amordaçar, para nunca mais incomodar. Eles me fizeram descuidar do amor amuleto onde eu confiava minha futura bonança, quase o deixei cair.

No entanto, hoje eu devo é rir! Não deixei cair, peguei no ar, pendurei no pescoço para nunca mais correr o risco dele escorregar. Desde então, não é nas mãos que o carrego, é de frente ao coração. E agora eu entendi: sem ti, sou pá furada por demais. Sou que nem abraço sem o cheiro no pescoço, fica a sensação de que faltou alguma coisa. E olha, não me deixa sozinho, que o vento da noite me arrepia e me dá um frio que só você põe pra longe. Eu sei que eu me perdi nas minhas divagações, nas confusões que não resolvi... mas é em você que eu me encontro.

Que trapalhada, não? Por mero capricho meu, achando que deixando você por aí e me aventurando por acolá seria o melhor. Criei uma desordem que não precisava! Acabei adentrando num buraco profundo. Então fui cavando mais, até que vi luz e descobri a saída da desventura: era você, pondo luz no caminho pr’eu ver a alegria de compor ao teu lado.


*Inspirado na canção “Paquetá”, do Los Hermanos. Contém algo pequeno de “Revelação”, de Raimundo Fagner. Este texto é completamente ficcional (hahaha).

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Moça de sessenta e tantos


A senhorinha me vê adentrar por sua casa e exige que eu entre, como uma intimação. Não recuso, mas, por um momento, esqueço-me do valor que possui o tempo gasto com ela. Com a gentileza que lhe é intrínseca, me serve uma concha abarrotada de munguzá, acompanhada de café e bolo, tudo com sabor de ternura.

Enquanto a escuto descrever suas doenças, me encanto cada vez mais. Embora esteja contando sobre problemas de saúde, seu olhar brilha gentilmente de felicidade por estar perto de mim e conduz um carinho gratuito. Ela se empolga tanto que não apresenta nenhuma dificuldade de oratória, apesar de ter nascido e crescido em meio a gente analfabeta e rodeada de galinhas num sítio interiorano. As rugas do rosto não são tantas, porém a coluna revela que a saúde não é a mesma de outros tempos. Fisicamente, porque a lucidez é assustadora.

Jamais acreditei que pessoas na faixa dos setenta anos tivessem coisas inúteis a expor. E conversando com essa senhorinha, tal crença se reforça. Conversando, disse eu? O mais correto seria ouvindo a mulher me ensinar a cada palavra pronunciada. Ela aconselha até mesmo quando boceja! Tão admirável é esta senhora. Ouviu-me falar de amores perdidos, de decepções familiares, de um coração que ela conhece melhor do que eu mesmo. Ao sentir saudade da ausência de um amigo originalmente paterno, segurei as lágrimas que pressionavam as pálpebras. Vi que ela fez o mesmo. Continuou invadindo o campo das minhas emoções com uma facilidade gigantesca, como se para ela fosse um lugar familiar. E é! A senhorinha me viu aprender a andar – de cueca roxa, passeando pela sala de sua casa – e cair também.

Ah, esta moça da terceira idade não sabe a quantidade de amor que guardo, pois meu vocabulário é ínfimo diante do que sinto.




*Presente à Dona Oscarina, a senhorinha tia-avó mais amável que existe.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Pelo prazer de ser zeloso

De fato, não tenho feito nosso o meu e o seu lugar. Eles continuam, inexplicavelmente, discrepantes. E olha, minhas palavras só se enrolam quando eu não quero falar algo e me sinto forçado a isso. Com convicção, minha certeza vai doer um pouco em ti, e peço sinceras desculpas por isso.

Ande em passos largos. Sim, assim mesmo, no imperativo. Com passos largos, caminhos serão percorridos com mais rapidez, obstáculos serão vencidos de vez em quando. Entretanto, pra vencer todos os obstáculos, vai ter que voar, e pra te fazer voar, é Deus. Eu, sozinho, sou incapaz de tal feito. E como seria lindo se nós alçássemos um voo unidos, proporcionado por Ele. O tempo daria passagem, o vento acompanharia e sopraria a nosso favor. Veleiros no mar a gente iria impulsionar, e eu iria lacrimejar por causa dos olhos expostos.

Só que eu tenho lacrimejado é de saudade. Ela vem dia sim, dia sim, me fazendo recordar dias de imenso aconchego. É que eu quis o teu, entende? Cuida desse teu aconchego, porque ele é promissor. És promissora, eu sei. Eu quero é te ver crescendo, então não pensa que tuas concepções, só por serem tuas, estão certas. Amplia tua visão sobre o que te rodeia. Aprende com as voltas que a vida dá. Me deixa respirar aliviado, de preferência, bem aconchegado.

E traz meu sono de volta. Isto também é imperativo.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O mimimi sobre Luiza, que estava no Canadá

É impregnado em todos os brasileiros o desejo de rir dos outros. Não de rir de tudo, mas rir, principalmente, de quando alguém passa vergonha. Gerardo Rabello sabe bem disso, afinal tem aguentado há vários dias o país inteiro zoando de sua fala se referindo à própria filha na propaganda de um novo empreendimento imobiliário na Paraíba. Mais precisamente, “menos Luiza, que está no Canadá” tornou-se uma febre pela inutilidade de informação que contém, pela irrelevância que teve naquele contexto.


Sendo assim, rapidamente a turma pôde tornar essa frase uma das mais ditas, digitadas, comentadas e ridiculamente polemizadas do Brasil nos últimos dias. Para que fazer uma tempestade como essa num copo d’água? Aliás, num copo não, numa xícara. Foi uma brincadeira! E uma brincadeira muito sadia, diga-se de passagem. Um comentário como “estou indo à praia com meus amigos, menos Luiza, que está no Canadá” não ofende a ninguém. Até mesmo o autor da frase, que numa primeira declaração mostrou-se irritado, tornou-a uma nova fonte de reservas financeiras para, quem sabe, Luiza fazer um curso superior no exterior, talvez até no Canadá…


O que ofendeu a alguns falsos moralistas e pseudo-intelectuais ditos preocupados com o futuro da nação foi o tamanho que a brincadeira alcançou. Na internet, ela acabou tomando o espaço de notícias como um ou outro caso de corrupção, um ou outro latrocínio, um outro estupro (ops, rs), etc. Não é que eu ache que essas coisas, por serem corriqueiras por aqui, perderam importância e são motivo de desleixo por parte da população. Nada disso. O que eu acho é que os meios de comunicação não deixaram de noticiar os acontecimentos realmente importantes. Portais de notícias estão a todo momento atualizados, e os interessados podem simplesmente acessá-los. E quem acha que seria mais certo noticiar que há pessoas desabrigadas no Rio de Janeiro por causa das enchentes, poderia muito bem fazer uma doação, não é? Isso é algo que todo mundo sabe, todos têm consciência de que pessoas precisam de ajuda. O choro de Maria tirou Jesus da cruz? Se comover não resolve absolutamente nada. Reclamar também não.


Quem não gostou da brincadeira, não brinca. Se irritar porque foi muito divulgado é burrice. A internet, por ser tão instantânea, se enche daquilo que é comentado naquele momento. Foi assim na morte da Amy Winehouse (que todo mundo dizia que só se falava naquilo), na morte do Osama Bin Laden (idem), em quando Neymar engravidou uma menina (idem), entre dezenas de outras notícias. Portanto, quem fica putinho quando um assunto é muito comentado na internet, aconselho a fazer outras atividades. Desliga o computador e vai ler um livro, como gostam de dizer por aí, e fim de papo. Não curte, não é obrigado a participar, porém, se está nas redes sociais, é obrigado a ler tudo o que a maioria publicar. A opinião da maioria, mesmo que errada, vence. O que não me surpreende é que pessoas acéfalas e que vivem a escutar músicas depreciativas, machistas e com apelo à pedofilia não se divirtam com isso. Pessoas assim gostam do que ofende a moral.


Dito isso, despeço-me afirmando que me diverti imensamente dizendo que todo mundo estava comigo indo fazer tal coisa, menos a Luiza, que estava no Canadá. E enquanto não perder a graça, continuarei fazendo. Depois, todos vão esquecer isso e uma nova bobagem vai tomar conta da boca do povo. A cultura do país é essa. É assim que sempre foi no Brasil, Sr. Carlos Nascimento. Nós não estamos menos inteligentes.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Um par

A culpa é do vento, que faz teus cabelos esvoaçarem tão convidativos a um agarrão, tão sedentos em estarem entre as minhas mãos. Por isso te solto. Deixo o leve vendaval te expor para todos, para mim; tornar tua face nua de segredos.

Sabes que não pouso em tua frente sem vontade plena. Mando em mim, porém meus braços só se completam com tua unha malfeita que o rasga. Se não deixares essas unhas malfeitas, procuro outro defeito para apontar. E quando eu não puder apontar os defeitos, perdeste a graça. Tens convicção que teu atrativo são os erros? Não me importo se evidentes ou escondidos, os encontrarei. A imperfeição se faz perfeita em ti.

Toma partido do meu querer, fá-lo crescer. Tenho uma expressão dominante de mim mesmo e podes ter alguma incerteza ou receio, mas não tenhas. Sou construído em enorme ternura frente a ti. O cangote do nordestino pede cheiro a todo instante, logo depois do arrochado abraço.

Deves também saber que esta conversa meiga passa longe de paixão. Eu determino meu caminho e quem o divide comigo. Portanto, se aqui me lês cogitando que me entrego a ti, enganada estás. Pois bem sei que ceder ao teu doce falar é cair de um precipício. Não penses que já me vejo derrubado na derrota do coração dominado – este coração sempre esteve talhado para tal destino. E, se me contradigo, a responsabilidade é predominantemente tua.

O teu cheiro na minha camisa é o convite pr’o meu fim.