Isto é de conteúdo
confessional e é de hora. Faz-se necessário porque eu quero que seja assim, não
porque exista demanda. É parte da absorção e aceitação do medo, o qual vive a
ser lançado para fora a cada dia, e um escrito ajuda muito. Sou desses que
também tem medo.
Acontece que a
gente gosta de se pintar de dourado até que se pareça valioso... Gostamos da
aparência bonita e fazemos qualquer coisa por ela. Pagamos caro, rimos falso,
pontuamos palavras, nos tornamos eloquentes, decoramos textos – tudo em prol de
algo bem mais nocivo do que a autoestima, algo que eu chamarei aqui de
“sanguessuga”. Quando um desejo nos surge, a sanguessuga o transforma numa obsessão
e a alimenta. Ao chegar a dor da não-realização, não há nada que preencha a
falta: a sanguessuga destrói todas as alternativas saudáveis.
Sanguessuga danada!
Tira o bom, deixa o ruim. Ela se nutre de paz, de aceitação, de compreensão, de
paciência, de sensatez e de tudo mais que nos ajude a prosseguir e a crescer.
Ela deixa somente o rancor, o ciúme, a insatisfação, a amargura, a acidez, a
inveja. Ela quer que sejamos superiores a todos. Ela detesta a humildade; não
permite que reconheçamos nossa inferioridade. E quando conseguimos vencê-la por
um instante e nos vemos pequenos, ela esperneia violentamente em nosso
estômago, causando uma ânsia de vômito emocional tão insuportável que voltamos
ao estado de deuses de si mesmos. Somos nossos ídolos e a sanguessuga nos
ajuda.
Nesse quadro, chega
então a hora em que eu queria ser quem não sou e nunca serei. É quando eu quero
lançar o melhor disco de blues já feito e não ver ninguém acima de mim na
história da cultura pop, seja do mundo, seja do meu bairro. É quando quero ser
autor do romance que revolucionou a maneira de escrever romances. É quando
gostaria que meu rosto ou meu corpo marcassem a indústria da beleza para
sempre. É quando quero ser o mais aclamado diretor de Hollywood. É quando eu
deveria ter fundado a maior empresa de computadores. É quando eu deveria ser o
mais admirado, seja a nível mundial, nacional, estadual, acadêmico, virtual ou
mesmo residencial. É quando eu deveria ser o melhor em qualquer coisa e a
sanguessuga não me deixa entender que eu não sou.
E assim, com uma
sanguessuga dentro de mim faminta pelo pouco que tenho de bom, encontro um
antídoto: amor.
É quando Laís me encontra.
É quando eu converso com Laís.
É quando eu toco em Laís.
É quando eu sinto o cheiro de Laís a uma considerável distância.
É quando compartilhamos lágrimas.
É quando doamos lágrimas.
É quando juntamos lágrimas e sorrisos.
É quando os sorrisos que a sanguessuga tentou sorver voltam com toda a força.
É quando eu converso com Laís.
É quando eu toco em Laís.
É quando eu sinto o cheiro de Laís a uma considerável distância.
É quando compartilhamos lágrimas.
É quando doamos lágrimas.
É quando juntamos lágrimas e sorrisos.
É quando os sorrisos que a sanguessuga tentou sorver voltam com toda a força.
É quando o amor é
um sacrifício e não um sentimento. Esse amor sacrificial, que aceita toda a
vaidade deixada pela sanguessuga, aniquila a sanguessuga. Pisa. Esmaga. E
começa a existir sentido em ser pequeno, pois, mesmo pequeno, mesmo não sendo
aquilo que a sanguessuga nos diz que deveríamos ser, sou alguém para alguém.
Amando, se sacrificando (e matando junto a sanguessuga), vou me tornando alguém
para alguém. Chorando, tentando extrair de mim o bom.
Se não for pra
Laís, eu nem quero mais ser eloquente. Eu nem quero mais escrever bonito. Eu
nem quero saber cantar. Nem quero ser o melhor guitarrista de blues. Não quero
estar em evidência em outro lugar que não seja o coração dela. Nem me preocupo
com dardos... Ser alvo de dardos é coisa pouca perto de amar.
O amor aceita o que
não é e melhora o que já é, mas tem que vir das entranhas. Amores entranháveis
doem também. Contudo, o amor é pra ser amado assim. E eu amo a Laís.