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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Conflitos e resolução

Isto é de conteúdo confessional e é de hora. Faz-se necessário porque eu quero que seja assim, não porque exista demanda. É parte da absorção e aceitação do medo, o qual vive a ser lançado para fora a cada dia, e um escrito ajuda muito. Sou desses que também tem medo.

Acontece que a gente gosta de se pintar de dourado até que se pareça valioso... Gostamos da aparência bonita e fazemos qualquer coisa por ela. Pagamos caro, rimos falso, pontuamos palavras, nos tornamos eloquentes, decoramos textos – tudo em prol de algo bem mais nocivo do que a autoestima, algo que eu chamarei aqui de “sanguessuga”. Quando um desejo nos surge, a sanguessuga o transforma numa obsessão e a alimenta. Ao chegar a dor da não-realização, não há nada que preencha a falta: a sanguessuga destrói todas as alternativas saudáveis.

Sanguessuga danada! Tira o bom, deixa o ruim. Ela se nutre de paz, de aceitação, de compreensão, de paciência, de sensatez e de tudo mais que nos ajude a prosseguir e a crescer. Ela deixa somente o rancor, o ciúme, a insatisfação, a amargura, a acidez, a inveja. Ela quer que sejamos superiores a todos. Ela detesta a humildade; não permite que reconheçamos nossa inferioridade. E quando conseguimos vencê-la por um instante e nos vemos pequenos, ela esperneia violentamente em nosso estômago, causando uma ânsia de vômito emocional tão insuportável que voltamos ao estado de deuses de si mesmos. Somos nossos ídolos e a sanguessuga nos ajuda.

Nesse quadro, chega então a hora em que eu queria ser quem não sou e nunca serei. É quando eu quero lançar o melhor disco de blues já feito e não ver ninguém acima de mim na história da cultura pop, seja do mundo, seja do meu bairro. É quando quero ser autor do romance que revolucionou a maneira de escrever romances. É quando gostaria que meu rosto ou meu corpo marcassem a indústria da beleza para sempre. É quando quero ser o mais aclamado diretor de Hollywood. É quando eu deveria ter fundado a maior empresa de computadores. É quando eu deveria ser o mais admirado, seja a nível mundial, nacional, estadual, acadêmico, virtual ou mesmo residencial. É quando eu deveria ser o melhor em qualquer coisa e a sanguessuga não me deixa entender que eu não sou.

E assim, com uma sanguessuga dentro de mim faminta pelo pouco que tenho de bom, encontro um antídoto: amor.

É quando Laís me encontra.
         É quando eu converso com Laís.
         É quando eu toco em Laís.
         É quando eu sinto o cheiro de Laís a uma considerável distância.
         É quando compartilhamos lágrimas.
         É quando doamos lágrimas.
         É quando juntamos lágrimas e sorrisos.
         É quando os sorrisos que a sanguessuga tentou sorver voltam com toda a força.

É quando o amor é um sacrifício e não um sentimento. Esse amor sacrificial, que aceita toda a vaidade deixada pela sanguessuga, aniquila a sanguessuga. Pisa. Esmaga. E começa a existir sentido em ser pequeno, pois, mesmo pequeno, mesmo não sendo aquilo que a sanguessuga nos diz que deveríamos ser, sou alguém para alguém. Amando, se sacrificando (e matando junto a sanguessuga), vou me tornando alguém para alguém. Chorando, tentando extrair de mim o bom.

Se não for pra Laís, eu nem quero mais ser eloquente. Eu nem quero mais escrever bonito. Eu nem quero saber cantar. Nem quero ser o melhor guitarrista de blues. Não quero estar em evidência em outro lugar que não seja o coração dela. Nem me preocupo com dardos... Ser alvo de dardos é coisa pouca perto de amar.


O amor aceita o que não é e melhora o que já é, mas tem que vir das entranhas. Amores entranháveis doem também. Contudo, o amor é pra ser amado assim. E eu amo a Laís.

Tempo de Pipa by Cícero on Grooveshark