Não aceito sentimentalismo
barato nem chororô desmedido. Tem que torcer a toalha encharcada de lágrimas e
só me entregar quando estiver enxuta. Rejeito se me aparecer com murmúrios
daquilo que passou, porque eu sei que tu és bem melhor do que isso. Vire o
coração ao avesso.
Acontece que as gentes adoram
viver de aparência, incluindo a da insatisfação com tudo; resultado do
imediatismo e comodismo que somos obrigados a aceitar (mas não a viver
completamente). O desejo é de ter suas tristezas resolvidas por outro – o
próximo “amor”. Esperam alguém que resolva os problemas, que enxugue as tais
lágrimas, que resolva as angústias, que apague as tristezas. Fecha tuas
maquiadas pálpebras pra isso! Das duas, uma: ou tu engoles tudo o que tem de lembrança
ruim aí, ou põe pra fora de uma vez. E eu não apareci pra limpar a sujeira. É
uma faxina que não me cabe fazer, mas a ti, todos os dias.
Só falo isso pra te alertar,
porque não é difícil ver tua lucidez. Eu quero te ajudar a reescrever, isso
sim. Percebo em minutos te mirando: queres novidade de sorrisos. Vim pra
colorir o preto-e-branco, criar na tua tela pálida uma obra de coisa aguda,
mesmo. Coisa que perdure sem medo de findar. Meu bem, comigo você também vai
chorar, por isso meu falar é tão momentaneamente denso. Não adianta me dar a
responsabilidade de te reconstruir, eu não sou o teu sustento, não vim te
levantar. Só vais conseguir absorver o que eu tenho por aqui se houver espaço
por aí, e espaço limpo de pessimismo. Cheguei com uma coisa que é pra te
completar, mas... como? Se você não tirou a neve do jardim?
Certo, de repente eu te ajudo. Entendo,
passado tem fantasma e coração acusa. Levo uma pá, você, a vassoura, e a gente
deixa tudo em ordem. No meu bolso levo semente! Semente do que você quiser:
cravo, margarida, lírio, tulipa e cafuné com arrepio. Depois de limpar o jardim
pode deixar que eu mesmo planto, rego e troco por terra nova, fértil. Teu
jardim é lindo, moça, dos mais valiosos que já vi nas minhas andanças. Se bem
cuidado, causa inveja no vizinho. Com teu pincel, penso em causar inveja é em
Monet com o jardim pintado/plantado por nós dois.
A brisa sopra
gentil e invade os portões.
Natã meu amigo, que texto!!! simplesmente MA - RA - VI - LHO - SO!
ResponderExcluirMeus parabéns!